sexta-feira, 7 de setembro de 2018

A serva


Descendo as escadas escuras Dalia Ferras já conseguia ver o trabalho que a aguardava, o chão estava coberto de sangue, até mesmo uma das paredes possuía grandes manchas vermelhas, vários instrumentos teriam de ser limpos, sem falar dos socorros que Josh precisava receber.
O jovem estava acabado, totalmente exausto, a língua presa para fora por um prego, um buraco em sua orelha escorria descontroladamente, a maioria de suas unhas havia sido arrancada, mesmo com toda aquela dor o dominando, um brilho surgiu em seus olhos quando a avistou.
Ela começou removendo os pregos e estancando o sangue, tanto dos furos quanto de pequenos cortes e de áreas onde a pele havia sido simplesmente arrancada.
—Ovrigado... Dalia. — Gemeu o jovem com a língua ferida dificultando a fala. — Se não fosse for você já essaria morso.
—Falar só vai te deixar mais exausto. — Respondeu ela. — Você precisa descansar.
—Eu sei que não pode me soltar... — Ele respirou fundo. —Mas é bom ser alguém me azudando.
—Josh... — Começou ela. — Esqueça... apenas fique quieto para manter suas forças.
Após terminar de limpar tudo a jovem pôs um comprimido embaixo da língua do garoto.
—Isso vai aliviar suas dores. — Disse ela. —Dentro de algumas horas vou voltar para trazer sua comida e verificar os curativos.
—Dalia, — chamou o rapaz, — antes de ir, pode me dizer se é dia ou noite?
—Desculpe Josh, não posso.
A jovem rapidamente recolheu suas coisas e subiu as escadas, lágrimas escorriam de seu rosto quando alcançou o closet.
“Por quê?” Se perguntou a jovem. “Por que as coisas têm que ser tão difíceis?”
Dalia enxugou as lágrimas antes de deixar o cômodo, no quarto ela recolheu a roupa ensanguentada de sua mestra e percebeu que nenhum barulho vinha do banheiro. Assim como imaginou o lugar estava vazio, a jovem esvaziou a banheira e a limpou, assim como o chão ou onde mais houvesse manchas de sangue.
Quando terminou a serviçal caminhou até a lavanderia com as roupas escondidas em um saco, somente ela sabia o que sua mestra fazia, isso a animava e muito, nada é melhor do que receber tamanha confiança de alguém tão especial.
Enquanto a máquina se encarregava de seu serviço Dalia decidiu caminhar pelo jardim, um velho habíto desde que havia sido recebida pela senhorita Castell, especialmente por passar pela janela do escritório, de lá conseguia ver sua mestra focada em seu trabalho.
“A mestra fica tão linda concentrada.” Pensou ela sentindo seu rosto corar. “Espero conseguir vê-la hoje.”
Porém o que viu ao chegar lá foi muito mais surpreendente, um homem escalava a calha na tentativa de alcançar sua mestra, ele já havia subido pelo menos três metros, mais um maldito paparazzo tentando conseguir uma foto surpresa da senhorita Castell, assim como os outros ele descobriria que aquela não era uma tarefa tão simples.
Uma pedra de tamanho considerável atingiu sua costas, fazendo-o perder o equilíbrio e cair no chão, todo ar deixou seus pulmões, levando o já não tão jovem repórter a acreditar que era seu fim, porém sua visão logo clareou o deparando com uma bela jovem de cabelos negros como a noite e um rosto angelical, vestida como empregada, talvez realmente estivesse morto.
Toda a aparência angelical desapareceu quando ela pisou em seu peito e começou a interroga-lo.
—Quem é você? Como entrou aqui? Pagou alguém para isso? O que quer com a mestra Castell? Responda logo!
—Espera... o quê? — Perguntou o homem desorientado. — Sou só um repórter, queria apenas algumas da senhora Castell para uma matéria.
—Quis dizer “senhorita”! — Corrigiu a jovem. — Agora, caso queira uma sessão de fotos com a mestra ligue e tente arranjar um horário como qualquer outro ou da próxima vez pode não sair daqui com todos os ossos intactos.
Mesmo com ele balançando a cabeça com toda a força para mostrar que havia entendido, Dalia ainda não havia decidido se deveria deixa-lo ir.
—Vá até o portão — ordenou ela após um tempo, — vou dizer ao segurança para te deixar sair, sem precisar receber o que merece.
Enquanto o homem fugia quase se arrastando pelo chão Dalia aproveitou para olhar rapidamente para sua mestra, a luz do sol se pondo iluminava seu rosto docemente, transformando a enorme beleza do seu rosto em algo divino.
Para sua infelicidade ainda haviam outras tarefas a cumprir, se não fosse por isso poderia ficar ali até o anoitecer. Deixando a mais bela visão para trás ela se perguntava novamente porquê não era suficiente para sua mestra.
—James! — Chamou ela pelo interfone. — Tem um paparazzo indo para o portão da frente, dê um susto nele antes de libera-lo. E caso eu descubra que um de seus homens o ajudou a entrar ele está morto.
Não houve resposta, não era necessário, ela sabia que James levava suas ameaças a sério, principalmente quando se trata da segurança da mestra.
As roupas ensanguentadas ainda não haviam sido limpas, então ela tinha tempo de agradar a senhorita Castell.

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Quando Dalia entrou no escritório carregando uma bandeja com café, leite e uma dose de whisky, Mary já guardava seus documentos na maleta.
—Boa noite, mestra. — Cumprimentou a jovem. — Gostaria de algo?
—Acho que só um café hoje. — Respondeu Castell. — E talvez uma massagem, estou um pouco tensa.
—Mesmo após uma sessão com o Josh? — Perguntou a garota servindo o café.
—Surgiu um trabalho inesperado e não estou gostando muito dele.
—Que tipo de trabalho, mestra?
—Bem... — Mary pensou em como poderia explicar. — Na noite em que sumi me encontrei com um homem poderoso, ele me fez uma proposta para um certo trabalho e era quase impossível recusar... Aí mesmo Dalia.
Ela começou a usar mais força onde massageava.
—Existe algo em que eu possa ajuda-la, mestra? — Perguntou a serviçal.
—Acho que não, Dalia. — A jovem não pode esconder sua decepção. — Pensando bem... talvez exista algo.
Seu sangue começou a ferver, será que conseguiria realizar sua fantasia?
—Ajoelhe-se. — Ordenou sua mestra.
A garota prontamente obedeceu, cada lado de seu rosto recebeu um forte tapa, marcando perfeitamente a mão de Mary em sua face.
—Isso foi aliviante. — Disse Castell massageando a mão. — Agora pode se retirar, Dalia. Deixe a bandeja, talvez eu queira um pouco mais.
No instante em que fechou a porta atrás de si, Dalia, deixou suas lágrimas escorrerem, aquele era o momento mais feliz da sua vida, não precisava sentir inveja do Josh ou qualquer outro como ele, sua mestra também podia vê-la como uma fonte de prazer, nada seria melhor que isso.
Dalia voltou as suas tarefas, mais feliz que nunca.

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