Ainda faltavam algumas
horas para a conferência de medicina que levou Henry Morrisson a cidade de
Hergos, então ele decidiu apenas matar o tempo até lá caminhando pela região.
Mesmo andando entre
uma das cidades mais belas historicamente de todo o estado sua mente não
conseguia deixar o trabalho, ele havia começado um experimento antes de deixar
São Tomé, claro que tudo estava sendo filmado, mas o aprendizado não seria o
mesmo que estando lá para observar cada detalhe.
Entre todas as
possibilidades sua maior preocupação era uma de suas cobaias morrer antes da
hora, nada era pior do que perder dias ou até meses de trabalho apenas por não
conseguir registrar bem as últimas reações de um experimento.
A comunidade médica,
obviamente, repudiaria suas experiências, porém ele havia feito grandes avanços
em diversas áreas e seu nome crescera muito no meio, não era difícil alterar os
relatórios para os padrões considerados mais “corretos” da atualidade.
É claro que seus motivos
são muito mais complexos do que ele demonstra, sempre dizendo a si mesmo o quão
nobre é sua motivação e quanto faz em prol do avanço da humanidade. No entanto
ele mesmo sabia, lá no fundo, que tudo era muito mais pelo prazer. As delicias
de se ouvir alguém gritando enquanto ele abria o corpo, o som da carne sendo
lentamente cortada, as lagrimas caindo dos olhos da cobaia, tudo aquilo lhe
proporcionava um prazer indescritível.
O médico lembrava, com
certa raiva, do tom sarcástico de Lexaror enquanto falava sobre suas
motivações.
–O que ele sabe sobre
mim? – Sussurrou ele.
Por um momento todo
seu corpo pareceu congelar, Lexaror realmente sabia muito sobre ele, seu nome,
sua profissão, seus métodos, provavelmente a localização do seu laboratório e
onde se livrava das cinzas de suas cobaias. A quanto tempo vinha sendo
observado? Alguém o seguia agora? Quem mais sabia tudo aquilo?
Enquanto caminhava
para sua conferência o doutor Morrisson olhava desesperado para todas as
direções possíveis, os pedestres ao redor observavam com diversão e medo a
estranheza do médico.
–O senhor está bem? –
Perguntou um jovem passando.
–É claro que estou. –
Reclamou o velho sem parar de andar.
Ainda a meio caminho
do seu destino o celular de Henry começa a tocar, algo realmente raro para
alguém sem parentes vivos ou amigos próximos.
Quando pôs a mão no
bolso o aparelho parou de tocar e para sua surpresa havia algo mais ali, um
objeto que não se lembrava de ter consigo.
Todo seu corpo
estremeceu ao pegar o objeto e se deparar com uma espécie de carta de tarô
bizarra. Desenhado nela havia um ceifador carregando sua famosa foice em uma
mão e na outra o frasco de veneno que aterrorizara o médico.
Ele entende totalmente
o que aquela carta significa, é ele.
(Em breve
saíra a arte da carta...)
“A medicina da morte.”
Pensou ele. “Acho que meu trabalho se encaixa bem nessa descrição, mesmo eu não
gostando disso.”
Ao virar a carta o
médico se deparou com um bilhete grudado que o perturbou ainda mais.
Mesmo sem querer
admitir havia funcionado, não ser um alvo para Lexaror e seu estranho grupo era
um alivio, pelo menos enquanto ele não te considerasse uma ameaça ou um
estorvo.
“E isso deveria me
acalmar?” ele se perguntou.
E como saberia se
estava sendo qualquer um dos dois? Parecia ser impossível prever o que um homem
como Simon pensava, quantos passos à frente ele poderia estar?
Morrisson respirou
profundamente para limpar seus pensamentos, estava entrando em crise novamente,
não adiantava nada se abalar com problemas futuros que podiam nem existir.
A sensação de
sufocamento que as ruas movimentadas começaram a transmitir se tornou
insuportável, por sorte um taxi surgiu na rua naquele momento e ele fez sinal
para que ele parasse.
–Para onde vamos? –
Perguntou o motorista assim que ele entrou.
–Rua Clemente Peixoto,
número 2076. – Respondeu o médico.
O tom de voz do
motorista o fez lembrar da noite anterior, como um simples hábito de sua rotina
podia ter se tornado algo tão inusitado?
Todas as noites, por
volta das oito, ele costuma caminhar por alguns minutos, mas é claro, deveria
ter imaginado, que aquela cidade tão grande não seria segura como a pacifica e
interiorana São Tomé, de onde vinha. Isso é o que Morrisson descobriu quando o
garoto encapuzado repentinamente saltou de um beco apontando uma arma para seu
pescoço.
–Boa noite, velhinho.
– Gracejou o garoto. – Vim te convidar pra conhecer meu clube.
Ele não fazia ideia de
como reagir aquilo. E afinal o que estava acontecendo ali? Um assalto? Um
sequestro? Aquele era o assassino que andava rondado a cidade?
Obviamente a última
opção era totalmente estupida, todas as vitimas até agora haviam sido mulheres
loiras, perfil no qual ele estava longe de se encaixar.
Enquanto era empurrado
pelo garoto, até um carro do outro lado da rua, Henry tentava buscar o mínimo
de lógica naquela situação.
–Entra! – Ordenou o
jovem.
A breve hesitação de
Morrisson rendeu um forte empurrão contra o veículo. Até agora ele não sabia
dizer como abriu a porta em meio aos tremores do pânico.
–Para onde você vai me
levar? – perguntou o médico quando o garoto entrou no carro.
–Vamos conhecer alguns
amigos. – Respondeu ele. – Você vai gostar deles, talvez até queira entrar pro
clube...
–Senhor? – Chamou o
motorista afastando seus pensamentos. – O senhor está bem?
–Estou, não poderia
estar melhor. – Respondeu o médico.
–Seu rosto ficou
pálido de repente. – Comentou o homem preocupado. – Tem certeza que está bem?
–Claro que tenho! Só
estou um pouco ansioso, vou participar de uma conferência importante hoje.
O motorista decidiu
não o incomodar mais, parecia uma má ideia.
Morrisson revirava a
carta de tarô tentando descobrir como ela havia parado no seu bolso e se
realmente sabiam o que ele estava pensando ou se aquilo não passava de sorte.
Toda aquela situação
era aterrorizante, ele se sentia como uma de suas cobaias.
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Autor: Lexaror