Karon acordou com a
música repentina entrando na casa, esse é o maior problema em lugares
abandonados, qualquer um pode entrar. Sem pensar duas vezes ela pegou suas
coisas e subiu para o cômodo superior, não era bom se arriscar em situações
como essa, poderiam ser só alguns adolescentes arruaceiros ou até mesmo
skinheads buscando um lugar para encher a cara. Rapidamente ela passou a ouvir
as janelas sendo quebradas e objetos atirados, ao que parecia era a primeira
opção.
Talvez devesse saltar
pela janela e sair logo dali, no entanto seria problemático encontrar outro
lugar tão perto do amanhecer, o melhor seria se esconder.
Procurando no cômodo
vizinho ela encontrou um banheiro com a porta bem conservada, talvez tudo não
fosse para merda dessa vez. Ao entrar Karon se deixou levar pela pior coisa que
podia, o ânimo de tudo dar certo, a jovem esqueceu de checar se as dobradiças
estavam boas, o ruído foi tão alto que não havia duvidas se quem estava no
andar de baixo ouviu.
Enquanto segurava a
porta com todas as forças que tinha ela implorava para divindade que mexia suas
linhas a ajudasse dessa vez.
O silêncio dominou a
casa no momento seguinte, os malditos haviam percebido sua presença.
—Eu sei o que eu ouvi!
— Gritou um dos jovens no andar de baixo.
—Então vá ver, idiota!
— Respondeu o outro.
Para o azar de Karon
ele realmente foi descobrir a fonte do barulho. Os passos ecoavam pesadamente
por toda a casa dizendo que ela não estava para enfrentar alguém pequeno.
—Tem alguém aí? —
Perguntou ele. — Não vamos te machucar, só queremos nos divertir.
“Se divertir comigo,
não é?” Pensou a jovem. “Imagino como vão fazer isso.”
Sentindo os passos se
aproximarem da porta ela sacou sua faca e pôs todo seu peso contra a única
coisa que a separava do gigante, mais uma vez teria que lutar para sobreviver.
—Você está aqui? —
Perguntou ele girando a maçaneta, fazendo a porta se mover um pouco antes de
Karon tornar a fecha-la. — Não precisa ter medo. Saia daí.
“Se não quer nada
comigo por que insiste em querer me ver?” Se perguntou a jovem, porém continuou
em silêncio, enquanto não soubessem que era uma mulher melhor seria para ela.
Com apenas duas
batidas o rapaz quase a tirou da porta, ele devia ser um monstro. Karon apertou
sua faca, se ele decidisse por aquela porta abaixo não haveria dificuldade
alguma, mas não importava o que ela precisasse encarar ali, não podia aceitar
morrer facilmente.
—Ou você abre essa
porta ou eu vou derruba-la. — Ameaçou o arruaceiro.
Sem esperar para
descobrir se aquilo era ou não um blefe a jovem deixou sua posição na porta, se
colocando ao seu lado. Com apenas um empurrão usando o pé ele arrebentou a
porta fazendo-a bater em Karon com força, ela deveria ter pensado que isso
aconteceria.
Um gigante de cabelos
longos e desgrenhados, vestindo uma jaqueta de couro entrou no banheiro olhando
em volta em busca do outro invasor.
—Cadê você? —
Perguntou ele parecendo um louco.
Quando a porta atingiu
Colly ela quase deixou sua faca escapar, juntamente com um grito, porém
conseguiu segura-los usando todas suas forças para fazê-lo. A jovem empurrou a
porta lentamente, finalmente encarando seu Golias, a faca brilhando na sua mão,
ela, porém, não o mataria ainda, tinha um plano melhor.
No momento em que se
virou uma faca foi posta entre as pernas do rapaz, o que faria até o mais
valente dos homens erguer as mãos sem pensar. A mulher na sua frente se parecia
com um pesadelo de olhos enfurecidos, prestes a corta-lo sem hesitar.
—Não deveria ter
entrado aqui. — Disse ela irritada. — Agora você vai me obedecer ou pode dizer
adeus pro seu amiguinho.
O rapaz concordou com
a cabeça, não havia duvidas de quem estava no controle.
—Pra fora! — Ordenou
ela. — Andando!
A ponta da faca
cutucando suas costas enquanto descia as escadas lembrava o rapaz de não fazer
nenhuma loucura.
Dois jovens estavam
sentados no chão do andar de baixo com uma garrafa de bebida entre eles, um
deles segurava um taco de baseball, provavelmente o líder do trio, enquanto o
outro carregava um cano de metal, aquilo poderia se tornar problemático.
—Josh! Marcos! —
Chamou o rapaz quando chegaram ao fim da escada.
Os dois olharam para o
amigo inocentemente, sem entender qual era a situação. Ao finalmente perceberem
a presença da pequena jovem descabelada e de olhar fixo os dois se levantaram
rapidamente.
—Quem é sua amiga,
Rony? — Perguntou o que segurava o taco de baseball se animando.
Assim que o líder deu
o primeiro passo na sua direção Karon tirou a faca das costas do rapaz e a pôs
na barriga do mesmo, o clima do lugar mudou de imediato. Como se pesado demais
para se mover o arruaceiro paralisou.
—Mais um passo e seu
amigo vai ter que catar as próprias tripas. — Ameaçou ela enfurecida.
—Tudo bem... — Respondeu
o líder. — Não queremos te machucar...
—Então pode soltar
esse taco. — Respondeu Colly. — A menos que não ligue do seu amigo ganhar uma
bela cicatriz.
—Faz o que ela diz,
Marcos. — Pediu Rony amedrontado.
O líder da gangue
baixou o taco, porém não soltou, a tensão do lugar pareceu dobrar, Karon nunca
foi do tipo que gosta de brincadeiras ou blefes.
—Você não deve se
importar muito com ele. — Disse a jovem forçando a faca ainda mais.
—Tente entender. —
Respondeu Marcos. — Se eu soltar o taco nada vai poder te impedir de fatiar meu
amigo.
—Se não largar vou
corta-lo e arrancar suas mãos em seguida. — Ameaçou Karon.
Toda confiança na voz
da garota o convenceu a obedecer, sem pensar seu amigo que segurava o cano de
metal também largou sua arma. A pressão diminui consideravelmente, mas a jovem
Colly sabia que o controle da situação ainda podia mudar, precisava mostrar
quem estava no poder.
Com um movimento
rápido ela cortou a panturrilha de Rony que caiu de joelhos no chão gritando
surpreso, quando os dois jovens ameaçaram ir contra ela a garota já estava com
sua lâmina na garganta do gigante.
—Não! — Gritou ela. —
Se tentarem mover um músculo vou pintar o chão de vermelho.
Agora estava claro
quem controlava a situação.
—Agora vai acontecer o
seguinte, — começou ela, — eu vou sair dessa casa com o seu amigo aqui, ir até
o portão sem ninguém nos seguir e então vou deixa-lo lá. Entenderam?
Ambos concordaram
lentamente com a cabeça.
Enquanto deixava a
casa, com a mão em meio aos cabelos castanhos do jovem que mancava e tinha uma
faca pressionando sua garganta, Karon não desviava o olhar dos outros dois por
um segundo sequer. Ela sabia que eles não esperariam que cruzasse o portão,
nunca esperavam, então Colly precisava ser rápida, no momento que passasse pela
porta dispararia para fora.
—Abra a porta. —
Ordenou ela quando a alcançarem.
Ele obedeceu tentando
manter a calma, quando deixaram a casa e o campo de visão de seus companheiros
Karon bateu com pomo de sua faca na nuca do jovem, correndo, em seguida, na
direção do portão. O tropeção aconteceu tão rapidamente que ela levou algum
tempo para entender o porquê havia caído. Assim como havia imaginado os outros
dois já alcançavam a porta, Rony se recuperava da pancada e virava-se para ela.
Colly começou uma
disputada luta com a gravidade para se levantar, enquanto o gigante que ela
ameaçara mancava cambaleante na sua direção com uma expressão feroz, claramente
em busca de vingança. Ela deixou de tentar se levantar e passou a arrastar-se
desesperada pelo chão, sem esperar o jovem agarrou sua perna e a puxou de volta
para casa, tudo estava indo para o pior cenário possível. Enquanto lutava para
se libertar do gigante ela buscava uma pequena chance de escapar, porém toda
sua esperança se foi quando os companheiros de seu raptor os alcançaram.
Cada um dos jovens
agarrou um de seus braços, as coisas estavam piorando insanamente rápido, eles
entraram novamente na casa, não era a primeira vez que algo assim que
aconteceria, porém ela sabia que havia os irritado demais ferindo um deles,
provavelmente não sairia viva dessa.
“Seria um bom momento
para usar a proteção de Lexaror.” Pensou ela desesperada.
—Vai se arrepender de
ter nascido, vadia. — Disse Rony socando seu estômago.
O gigante agarrou seu
queixo balançando sua face de um lado para o outro, observando a aparência da
jovem, não era de todo mal. Dando um tapa em seu rosto ele a soltou apenas para
tentar rasgar sua camisa, ao perceber que era uma tarefa mais difícil do que
aparentava ele apenas a ergueu, revelando um pequeno par de seios.
Karon gritou em agonia
quando a língua de seu raptor passou por seu mamilo, todo seu corpo estremeceu
e a jovem fechou sua mão com força suficiente para seus dedos doerem, só então
ela percebeu que já poderia ter acabado com aquela situação infernal antes
mesmo de ter começado, pelo menos se não houvesse entrado em pânico.
A faca ainda estava na
sua mão.
Rony tentava abrir sua
calça enquanto seus amigos sorriam ensandecidos, estava na hora de acabar com a
alegria deles.
Colly girou seu punho
cortando o braço de um dos jovens que rapidamente se afastou assustado, com
toda sua força ela perfurou a barriga do líder e terminou esfaqueando três
vezes as costas de Rony antes que ele a deixasse em paz.
Todos os três se
afastaram prontamente dela, enquanto agonizavam e viam seu próprio sangue
escorrer, o controle voltava a ela.
Sem esperar que eles
se recuperassem ela correu para o portão, que por sorte não havia sido trancado
pelos jovens quando entraram, a rua estava vazia para sua sorte, precisava
tomar cuidado ao andar durante o dia, ela baixou sua blusa, guardou a faca e
torceu para que seu azar houvesse acabado.
“Talvez eu ache um
lugar logo.” Pensou o mensageiro voltando as ruas.
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