Vagner Santos,
policial, vinte e dois anos de carreira, já havia visto de quase tudo nessa
vida, porém as fotos em suas mãos ainda conseguiam perturba-lo, vinte feridos,
quinze mortos, a maioria deles sem aparente conexão, apenas no lugar errado e
na hora errada. Segundo as câmeras o garoto matou cinco deles para pegar suas
maletas, o que haveria nelas? Provavelmente dinheiro em pelo menos uma.
—O que acha Katie? —
Perguntou ele à sua parceira.
—Sobre o quê? —
Perguntou ela que checava outro caso.
—Sobre o caso do “Chacineiro”,
alguma ideia do que poderia estar nas malas?
—Tenho certeza que são
drogas, quase sempre são.
Ele não podia negar,
porém, pelo que sabia do “Chacineiro”, aquele não parecia o estilo dele, o
jovem costumava ser totalmente aleatório sem se preocupar em roubar suas
vítimas ou sequer escolhe-las. Talvez alguém o tivesse mandado fazer aquilo.
—Vagner! Katie! Na
minha sala, agora. Tragam o caso do “Chacineiro”. — Chamou o chefe do
departamento afastando seus pensamentos.
Sem demorar eles
levantaram de suas mesas e seguiram para sala do comandante, lá dentro ele os
aguardava com um homem usando um terno marrom e possuía uma barba ligeiramente
grande.
—Esse é o detetive
federal, Marco Ruiz. — Apresentou o chefe. — Ele é um especialista no
“Chacineiro” e vai liderar a investigação. Devem reportar tudo que descobrirem
para ele.
Após todos se
apresentarem e os devidos cumprimentos o detetive federal pediu para a dupla
apresentar os fatos até agora.
—Não temos muita coisa
ainda. — Respondeu Vagner. — O que sabemos é: antes de ir ao estacionamento ele
matou um homem na rua, o garoto sentou-se no caminho e isso acabou por
irrita-lo, infelizmente ele não sabia com quem estava mexendo.
“Os homens no estacionamento eram Johny Elms,
Fabio Torres, Douglas Rouge, Gerald Tanaka e Stephano Silva. Elms e Silva já
haviam cumprido pena, um por tráfico de drogas e o outro latrocínio.
“O ‘Chacineiro’ atirou
em Rouge enquanto ele seguia na direção de Tanaka e seu grupo, acreditamos que
eles pretendiam fazer uma troca, a suspeita principal no momento é tráfico de
drogas. Tanaka já era suspeito de ter envolvimento com a máfia.”
—Ele pegou as maletas
e foi embora? — Perguntou o federal sem se espantar. — Ele faz isso de tempos
em tempos, acredito que em algumas situações Charles seja contratado como
assassino de aluguel.
Ouvir o nome do
“Chacineiro” era estranho para Vagner, o fazia lembrar que ele não passava de
um garoto humano e não uma monstruosidade poderosa como parecia ser. O detetive
tentou não pensar muito nisso para evitar perder o foco.
—Após isso ele entrou
no shopping já disparando, — continuou o detetive, — matou seis pessoas lá
dentro e outras quatro na rua. Testemunhas dizem que ele sorria como se fosse
algo rotineiro e prazeroso.
“Sua última vítima foi
a quinhentos metros do shopping, seguindo para região sudeste, temos patrulhas
pela área, para o caso dele reaparecer.”
—É raro que isso
aconteça, porém estão certos de se precaver. — Comentou o detetive Marco. —
Certa vez quase o pegamos voltando na cena do crime, no entanto ele conseguiu
matar os policiais no local e escapar.
—Difícil acreditar que
um garoto é capaz de tudo isso. — Disse Katie espantada.
—Não se deve duvidar
dele. — Respondeu Marco. — Charles poderia lidar com esquadrão da “Equipe de
Elite Antiterrorismo”, coisa que já fez.
O silêncio pairou
enquanto Vagner guardava as fotos e documentos do caso.
—Bem, — disse ele
fechando a pasta, — isso é tudo que sabemos até o momento. Gostaria de visitar
a cena do crime para ter uma visão melhor?
—Já o fiz. — Respondeu
o federal prontamente. — Foi o primeiro lugar em que passei ao chegar na
cidade.
—Se precisar de mais
alguma coisa pode contar conosco. — Disse Katie levantando-se.
A dupla deixou a sala sem
dizer mais nada, nenhum dos dois gostava da ideia de receber ordens de um
federal, esse, porém, era um caso diferente, lidar com aquele que era o mais
novo dos dez terroristas mais perigosos do mundo, fazia ambos deixar isso de
lado, trabalhariam até com a “GIN” se fosse necessário. Apesar disso outra
coisa incomodava o detetive.
—Não confio nesse
homem. — Sussurrou ele para sua parceira.
—São seus “instintos”
falando? — Perguntou ela.
—Sim, — respondeu
Vagner, — acho que ele esconde algo. Não gosto disso.
—Vag, você não trocou
meia dúzia de palavras com o cara. Como sabe que ele esconde algo?
—E por acaso meus
instintos já erraram? — Questionou o homem.
—Várias vezes. —
Debochou ela.
—Mas estou certo na
maioria. Isso que importa.
Katie riu enquanto
voltava para sua investigação.
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Três dias é muito tempo
para Vagner, ele precisava encontrar alguma pista que levasse ao “Chacineiro”
logo ou poderia perder seu caso, o problema é que o garoto era escorregadio,
nenhuma câmera na região do último lugar em que agiu o identificou, assim como
ninguém parece tê-lo visto andando por ali. Ele provavelmente estava em algum
esconderijo e com certeza havia alguém o ajudando.
—Trouxe seu chá. —
Disse Katie afastando seus pensamentos. — Cuidado, está quente.
—Obrigado. — Respondeu
ele pegando o copo.
Os dois se recostaram
na parede da construção diante do maior shopping da cidade, ambos pensavam no
que fariam, não eram grandes as chances de encontrar uma prova que mudasse tudo
a seu favor.
—Café preto? —
Perguntou Santos quebrando o gelo.
—E sem açúcar, não
consigo começar meu dia sem isso. — Respondeu a policial.
—Não sei como consegue
tomar um copo tão grande disso. — Disse ele. — Vamos entrar?
—Vamos. — Respondeu
ela dando um grande gole. — Não sei do que está falando, pelo menos eu não bebo
chá como um inglês metido.
Vagner riu enquanto
atravessavam a rua.
Lá dentro tudo estava
revirado, buracos de bala se espalhavam por toda parte, assim como demarcações
de corpos, o mais terrível de tudo era saber que aquela era uma de suas ações
com menos mortes.
Não havia tempo para
pensar na tragédia a sua frente, eles precisavam encontrar alguma pista nova.
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Após uma hora de
buscas sem novidades ambos pensavam em desistir, nesse momento Vagner recebeu a
ligação de um número desconhecido.
—Encontramos ele! —
Disse uma voz que parecia saber de tudo. — Vá agora para rua das Padroeiras, já
acionamos uma equipe da “EEAT”.
—Quem era? — Perguntou
Katie assim que desligou.
—Pela voz metida acho
que era nosso novo chefe, Marco Ruiz. — Respondeu ele sem saber se estava
irritado ou animado. — Parece que encontraram nosso garoto.
Sem esperar os dois
partiram dali, aquele poderia ser o ponto alto da carreira de Vagner, pegar o
maior terrorista do país, talvez recebesse uma medalha, sem contar o bem que
tirar aquela monstruosidade das ruas faria. Mas acima da animação estava o
sentimento de angustia, algo daria errado, uma investida contra o “Chacineiro”
nunca acabava sem vítimas, ele apenas torcia para que o mínimo de pessoas
morresse.
Quando a dupla chegou
no local a rua estava vazia, exceto por dois homens passeando com seus cães
cada um indo na direção oposta do outro. Quando um deles avistou o carro ele
acenou para que parassem.
—A área está fechada
no momento. — Disse o homem quando o vidro foi baixado.
—Somos policiais. —
Respondeu Vagner mostrando seu distintivo. — Estamos aqui para a operação.
—Deem a volta e
estacionem do outro lado. — Ordenou o homem. — O restante da equipe está na
igreja.
Katie manobrou o carro
e retornou, em frente a igreja haviam dois furgões da “EEAT” e meia dúzia de
carros oficiais. Entrando a dupla descobriu que quase todo o departamento
estava ali, incluindo o chefe.
—Detetives! Finalmente
chegaram. — Saudou Marco. — Estávamos os aguardando. Vamos repassar o plano uma
última vez.
“O suspeito está em um
edifício abandonado, ele possui cinco andares então vamos nos dividir em três
equipes a primeira ira cercar o prédio, podem esperar que ele salte de qualquer
andar, nosso alvo é imprevisível, a segunda equipe ira vasculhar o andar
enquanto a terceira subira para o próximo, tendo sempre uma equipe no andar
inferior da outra. Boa sorte a todos.”
Ninguém ali parecia
demonstrar total segurança, mesmo que a missão tivesse sucesso era provável que
alguém morresse, afinal não era um simples garoto com uma arma.
Um grupo da “EEAT”
seria o primeiro a entrar seguido por outro da polícia, liderado por Ruiz.
O silêncio reinava na
rua quando cercaram o prédio, não haveria aviso prévio, eles apenas entrariam e
tentariam prende-lo vivo, contrariando o desejo da maioria de entrar atirando.
Quando a porta da frente foi derrubada tudo se tornou um caos organizado, com
uma confusão de gritos de comando e botas com metal batendo no chão.
O primeiro andar
estava limpo.
Assim como o segundo.
Foi no terceiro que a
sorte veio. Lá estava ele, deitado em posição fetal no quarto alojamento do
andar, dormindo tão profundamente que nem percebeu a movimentação ao seu redor,
toda equipe o rodeou com armamento pesado apontado contra ele. Ruiz puxou seu
braço e passou uma algema em seus punhos finalmente o acordando.
—Ei! O que é isso? —
Perguntou ele assustado.
—Você está sendo preso
Charles. Finalmente aca... — Marco percebeu que estava enganado.
Charles é conhecido
por ter uma aparência jovem, mais do que realmente é, aquele a sua frente com
certeza já passava dos quarenta e possuía uma barba suja que começava a ficar
branca.
—Quem é você? —
Perguntou o federal claramente transtornado.
—Sou o Carlos. —
Respondeu o homem assustado.
Vagner já entendia o
que estava acontecendo, isso explicava porquê não haviam encontrado imagens do
garoto pela região, ele trocou de roupa com um morador de rua qualquer e
escapou sem ser reconhecido.
Não havia como negar
que ver o federal desesperado gritando com um homem que claramente não sabia de
nada era divertido, porém Vagner se sentia desanimado por não terem encontrado
seu alvo, mas ainda havia esperança.
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Aquele era o
interrogatório mais violento que Vagner já havia visto, mais parecido com
tortura que qualquer outra coisa, o federal socava a face do pobre morador de
rua entre as perguntas e, caso ele não soubesse responde-las, seu estômago era
esmurrado.
—Sei que ele tem carta
branca para fazer qualquer coisa que leve ao “Chacineiro”, — disse o chefe de
departamento que observava a cena ao seu lado, — mas acho que isso já é demais.
—Ele já disse tudo que
sabia. — Respondeu o detetive. — Ele só quer descontar a raiva em alguém.
—Ele ainda está nessa?
— Perguntou Katie que voltava após dez minutos para fumar. — Alguém tem que
parar ele.
—Infelizmente ninguém
tem autoridade para isso. — Disse o chefe balançando a cabeça.
Vagner decidiu tomar
uma atitude, não podia mais ver aquilo quieto.
—Detetive Ruiz! —
Chamou ele pelo interfone. — Parece que a inteligência encontrou alguém próximo
da descrição pelas câmeras da região.
Agora bastava contar
com a sorte de a inteligência ter encontrado algo. Quando o federal deixou a
sala, limpando as mãos com um lenço, estava claramente mais aliviado do que
quando chegou com o suspeito. Aquilo não passava de puro sadismo para Vagner,
quando o sistema havia se tornado tão podre? Mesmo que fosse para pegar o
“Chacineiro” ele não podia concordar com toda aquela violência.
—Vamos pegar um copo
de café e ver se descobriram algo. — Disse ele para sua parceira.
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Autor: Lexaror
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