domingo, 5 de agosto de 2018

Testando a sorte


Na televisão George K apreciava a notícia sobre sua última vítima, já fazia dois dias e as chances de encontrar o culpado diminuíam cada vez mais. Segundo a repórter aquela era o vigésimo ataque do “Maníaco da Rua Dezenove”, ele não sabia se aquilo estava certo, contar quantas mulheres ele havia atacado lhe pareceu algo desnecessário e sem sentido. O que importa é a sensação do momento e não os números.
Assim que a reportagem terminou ele desligou a televisão e deixou a casa, era uma bela manhã para se caminhar. Sua mente flutuava entre a apreciação da jovem de poucos dias atrás, o trauma de seu sequestro e a grande oportunidade que havia recebido de Lexaror. Sem que percebesse ele acabou deixando seu bairro, indo parar na tão famosa rua dezenove.
A decisão de olhar como estava o lugar onde tudo havia começado era irresistível e George não é um homem conhecido por seu alto-controle.
Várias das casas estavam vazias, mesmo ele tendo agido por ali apenas três vezes, o que provavelmente destruiu a valorização dos imóveis e assustou muitas famílias.
—Será que não perceberam meu tipo? — Murmurou ele para si mesmo. — Bem, não importa.
Alguns moradores começaram a deixar suas casas para pegar o jornal e olhavam desconfiados para ele, um estranho rodando por ali devia ser algo totalmente assustador, mesmo após já terem passado meses desde o último crime.
George começou a voltar para sua casa pensando se poderia agir sem sofrer com os incômodos da polícia. Pelas palavras de Lexaror não seria um problema, mas como ele conseguiria garantir isso? Comprando policiais? Não podia ser tão simples, era algo difícil de impedir, principalmente para crimes considerados tão terríveis.
Bem, arriscar uma não faria mal, nem seria tão perigoso se estivesse em um bairro afastado do último em que agiu, a segurança não costumava aumentar em grandes distâncias.
—Você soube o que aconteceu na Vila Lobo? — Perguntou um rapaz a outro enquanto passavam por ele. — Aquele maníaco atacou novamente!
—Eu vi! — Respondeu o outro. — Quando será que vão pegar esse doente? Fico preocupado com a minha mãe.
O jovem possuía cabelos claros como trigo, provavelmente herdados da mãe, George teve que controlar o impulso de segui-lo e descobrir se estava certo, mas estava muito próximo de sua casa, não podia mais atacar por ali.
Assim que chegou em casa não esperou para ir até a estante de livros onde pegou um caderno velho e usado por completo, seu velho diário. Já fazia alguns anos que George anotava as mulheres que passavam por ele e agradavam seu perfil, onde havia sido, qual o horário, seus detalhes, o que pensava em fazer com elas, entre outras coisas. Após alguns anos ele começou a segui-las e anotar suas rotinas, somente na segunda metade do ano anterior ele tomou coragem começando a agir. Naquele caderno estavam suas mais prováveis vítimas.
Enquanto folheava as páginas, senhor K, notou que várias delas estavam riscadas, não que fizesse diferença, haviam mais seis, caso aquele acabasse.
“Rua Ricardo Terceiro, beirando os trinta anos, magra, com um loiro dourado que brilha com a luz do sol, sete e meia da manhã, lanchonete Princesa.”
Aquela anotação já fazia dois anos, porém ele a seguira por duas semanas e ela tomava café naquele mesmo lugar todos os dias por volta das sete da manhã. As chances de ela trabalhar no mesmo lugar eram grandes.
Ele olhou para o seu relógio, ainda eram seis e quinze, ele teria pouco tempo para chegar lá, teria que contar com a sorte. Foram necessários apenas cinco minutos para ele pegar sua faca e por uma roupa escura fácil de abrir ou fechar, rapidamente partindo para o ponto de ônibus.
A animação com a ideia do prazer duplo em uma semana, sem ter que se preocupar com os riscos, parecia correr pelo seu sangue, aquela noite maluca foi a melhor coisa que poderia ter acontecido com ele, era como ser intocável.

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Sorte, é como o dia de George poderia ser definido, assim que entrou na lanchonete avistou a mulher deixando o lugar com seu habitual café, logo a seguindo. Eles caminharam pelas ruas movimentadas por alguns minutos antes dela entrar em um prédio comercial onde trabalhava.
Aquilo iria levar, segundo suas anotações, pelo menos quatro horas, ele então resolveu voltar para lanchonete e comer algo, o dia prometia ser longo dali em diante.
Não estava errado, a mulher levou exatamente quatro horas para deixar o prédio. Se não estava enganado ela raramente costumava sair durante a noite, mas desistir era a última coisa que passava pela sua cabeça.
Três horas após voltar a mulher deixou o prédio mais uma vez, dessa vez parecia ser definitivo. George a seguiu até o metrô a alguns metros da lanchonete onde a havia encontrado. Sua casa também não era muito distante da estação o que diminuiu drasticamente suas chances de pega-la em um lugar tranquilo, mesmo sem motivos para continuar ele decidiu esperar mais um pouco.

------- † -------

Observando afastado George sentia o sono de um dia exaustivo toma-lo, no momento os frutos daquela busca pareciam tão distantes quanto o conforto de sua casa. A escuridão da noite estendia suas garras lentamente sobre os últimos raios de sol, levando todo o animo que tivera pela manhã.
Isso até as luzes da casa começarem a se apagar. Foi como se uma carga de energia fosse disparada em suas veias, a mulher iria sair aquela noite! Uma péssima decisão.
Em poucos minutos ela deixou a casa, muito bem arrumada e conversando no celular. Agora era uma questão de sorte, alguma rua precisava estar vazia para que pudesse agir.
Enquanto andava ela em alguns momentos ela atirava seu cabelo para trás, George podia jura que a cada balançar um rastro dourado era deixado para trás, para ele, a mulher o estava chamando.
Um beco escuro a poucos metros, uma rua vazia, sua vítima distraída, aquele era o momento para agir, seu instinto predatório estava bem afiado, seria fácil como sempre.
Ele disparou na direção da mulher, tapou sua boca com uma mão e forçou a faca contra garganta dela, arrastando sua presa indefesa para o beco sem esforço algum.
—Sabe o que acontece se gritar, não é? — Perguntou ele apertando a faca.
Ela balançou a cabeça o encarando com olhos aterrorizados.
—Agora se abaixe. — Ordenou K a empurrando. — Coloque o rosto no chão e empine-se.
Não houve resistência alguma, o universo estava agindo ao seu favor, era impossível negar.

------- † -------

Enquanto a sensação mais confortável que passava por ela era seu rosto sendo arrastado no chão, Maria se perguntava porquê diabos havia escolhido sair bem naquele dia. Suas amigas tinham conseguido convence-la a comemorar seu aniversario em uma boate, ela nunca havia feito algo assim.
“É tudo culpa sua, devia ter ficado em casa como sempre.” Pensou ela. “Olhe essas roupas, estava pedindo por isso.”
A monstruosidade atrás de si puxou seus cabelos, afastando qualquer pensamento.

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George cheirou os cabelos da mulher, isso o lembrou de coisas ruins, aquele dourado conseguia ser divino e atormentador. Um êxtase o tomou enquanto todo seu corpo tremia, acabava de gozar.
Não houve tempo para a pobre coitada sentir-se mal ou suja, a faca atravessou o corpo com facilidade, fazendo um grito agudo escapar de sua garganta, e mesmo sem motivos para continuar obedecendo ela se manteve instintivamente na mesma posição.
Outra vez a faca atravessou suas costas e barriga, seguido pelo golpe quase de misericórdia direto no pulmão.
George fechou suas roupas, limpou a faca na parte de dentro do casaco e partiu. Agora bastava esperar para descobrir se o que Lexaror disse era verdade.
A volta para casa foi tranquila e calmante como sempre.

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Autor: Lexaror

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