segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Caçada e captura


No porão de sua casa Sandro Diaz observava um mural com a foto de três homens, um jovem negro de cabeça raspada, outro branco com longos cabelos dourados e um homem já com seus quarenta anos e cabelos bem penteados começando a se tornarem grisalhos.
O tipo favorito de Sandro são homens com cabelos mais longos, por causa da facilidade em se manter a cabeça segura, porém o rapaz negro possuía um pescoço magro onde sua mão parecia se encaixar perfeitamente, estava sendo difícil escolher apenas um.
“Segundo Simon eu poderia pegar os três,” pensou ele, “no entanto devo dar algum espaço de tempo, para não dificultar seu trabalho.”
“Mas quanto? Alguns dias? Uma semana? Duas? Um mês?”
Aquela dúvida o estava matando, seu estômago doía com a animação de poder capturar os três em um único mês, porém a ideia de ser descoberto era aterrorizante.
Bem, se mantivesse o cuidado no mesmo nível as chances de ser pego eram mínimas, então por que não arriscar? Valia a pena. A primeira vitima seria Jeferson, o jovem negro com seu belo pescoço pronto para ser empurrado até o fundo de um barril.
Ele revisou a ficha que fez do rapaz, em poucas horas ele deixaria o bar em que trabalhava e percorreria um caminho de vinte minutos até o metrô, esse seria o momento perfeito para agir, as ruas daquela região costumam ser extremamente calmas, principalmente naquele horário.
Em dez minutos Diaz partiu com seu carro para a zona oeste, se tudo saísse como planejado estaria no lugar em meia hora, contanto que nada o atrapalhasse no caminho.
Mesmo tendo chegado dez minutos depois do planejado ainda daria tempo de preparar tudo se fosse rápido. Uma de suas partes favoritas, fora o afogamento em si, é executar o plano de captura, cada alvo exige um método diferente de aproximação e ele adora interpretar.
Segundo sua pesquisa Jeferson era um jovem caridoso, do tipo que adora fazer doações e trabalhos voluntários, não importa o quanto estivesse cansado ele sempre pensava no próximo então Sandro decidiu se vestir como um morador de rua.
Não foi preciso esperar muito para que seu alvo virasse a esquina, assim que o jovem passou por Sandro ele estava irreconhecível, envolto por um cobertor velho, os cabelos desgrenhados tão sujos quanto seu rosto e roupas. Ele estendia sua mão, que tremia levemente, pedindo um trocado qualquer.
Como um rato atraído para ratoeira Jeferson se aproxima sem desconfiar de nada, puxa sua carteira e pega uma nota. O que mais impressionou a Diaz não foi a prontidão do jovem em ajudar um completo estranho, mas sim seu sorriso de satisfação, como se aquilo o fizesse estar completo.
O garoto entregou a nota e no momento que suas mãos se tocaram seu braço foi agarrado, os aproximando repentinamente fazendo seus rostos quase se tocarem. Sandro então cravou uma agulha em sua coxa, injetando cem miligramas de haloperidol no jovem que desfaleceu imediatamente.
Tudo como planejado, agora só era necessário arrasta-lo até o carro, algo fácil já que Jeferson não passava dos sessenta quilos, bem no limite da sua força.

------- † -------

Acordar em um lugar desconhecido sem saber como chegou ali é uma das sensações mais aterrorizantes que se pode sentir, quando os primeiros segundos de confusão passam e você percebe estar amarrado em uma cadeira toda a realidade parece ser alterada para fantasia insana de um pesadelo.
Esse era o sentimento de Jeferson ao se ver em um galpão vazio, preso e amordaçado diante de um homem de bermuda e camisa polo — pronto para um passeio matinal — enchendo um galão com uma mangueira.
—Em... é... ocê? — tentou perguntar ele.
O homem virou sua atenção para o jovem.
—Ah, que boa surpresa. — Disse o estranho. —Acordou antes do que eu imaginava. Bem, já estamos quase prontos para começar.
Ele não sabia o que estava para acontecer, porém tudo apontava para algo horrível, precisava escapar dali de qualquer jeito. Sua primeira ideia era soltar aquelas malditas amarras, mas fazer alguém dormir não é o único efeito de um sedativo, seu corpo estava sem força para se mover.
—Não adianta tentar se soltar. — Disse o homem soltando a mangueira e se aproximando. — Você vai ter dificuldade para se mover nas próximas horas... Mas não vai ser um problema para você considerando o que está para acontecer.
“Agora vou tirar essa mordaça e você não vai gritar, estamos entendidos?”
Jeferson concordou com a cabeça.
—Socorro! — Gritou ele assim que pode. — Por favor! Alguém!
O homem apenas sorriu diante do seu desespero, ele já sabia que aquilo aconteceria.
—Pobre Jef, — zombou ele, — achou mesmo que isso fosse dar certo?
Aquele desgraçado só estava brincando com ele, se divertindo com seu sofrimento, mas ele não podia aceitar aquilo sem lutar, o jovem pôs toda sua força em seu braço direito, esforço que rendeu apenas um leve empurrão contra a amarra e grandes gargalhadas do homem a sua frente.
—Seus esforços me divertem. — Disse ele soltando os pés do jovem. — Porém estamos ficando sem tempo, vamos começar logo isso.
Quando seu braço foi solto Jeferson tentou socar seu raptor e tudo que conseguiu foi um movimento lerdo e desajeitado, fácil de ser evitado.
—Por que está fazendo isso? — Perguntou o jovem. — O que você quer?
—Bem, Jeferson, — respondeu o homem soltando a última amarra, — para ser sincero eu quero enfiar sua cabeça naquele galão, então se puder colaborar e lutar bastante, eu iria agradecer.
Assim que o estranho ergueu seu corpo, segurando por baixo de seus braços, ele começou a se debater, tentando para-lo empurrando seus pés contra o chão, forçando seu corpo a se mover corretamente, tudo em vão.
Cada passo mais perto do galão era agoniante, como se mil agulhas furassem sua pele, ele sabia que estava perto do fim, mas precisava tentar fugir.
Com o resto de suas forças Jeferson começou a balançar seu corpo, uma tentativa desesperada de se soltar, o que pareceu funcionar no momento em que chegaram diante do galão, as mãos de seu algoz afrouxaram o aperto, estava livre, precisava aproveitar e fugir. Um novo aperto veio, seu corpo foi agarrado com força, porém, dessa vez, mais em baixo, estava sendo erguido.
Não houve uma frase de efeito, direito a últimas palavras ou hesitação por parte do homem, ele apenas agarrou seu pescoço e afundou sua cabeça no galão. Jeferson tentou segurar nas bordas para se afastar, mas não possuía força suficiente em seus braços.
Água gelada bateu em seu rosto com violência e, enquanto se expirava o último folego, começou a invadir seus ouvidos, logo seguindo por seu estômago e pulmões.
Os seres humanos possuem necessidades básicas para sobreviver e quando uma delas é ameaçada seus instintos os levam a cometer atos extremos, sentir fome por longos períodos pode levar alguém ao canibalismo , já a sede pode fazer alguém consumir água de qualquer lugar, mesmo que isso ponha sua saúde em risco, porém existe uma necessidade que nos leva a agir imediatamente, a falta de oxigênio, algo tão essencial para vida que pode nos levar ao impensável. Jeferson o descobriu quando conseguiu balançar aquele galão muito mais pesado que ele e se erguer para respirar um pouco de ar.
Sem aguardar um segundo sequer ele foi novamente empurrado para água, o homem passou a apertar seu pescoço com ainda mais força. Enquanto lutava sua força ia lentamente se perdendo, a escuridão começava a domina-lo. Nos filmes, seria nesse momento em que ele deveria ser salvo ou descobriria uma forma de escapar, não podia morrer daquela forma, tinha que se livrar dessa.
Porém aquilo não era um filme.

------- † -------

Enquanto segurava o jovem inquieto e sua camisa era encharcada por seus movimentos desesperados, Sandro respirava pesadamente, aquilo estava sendo incrível. Nas duas vezes em que Jeferson se ergueu – tentando loucamente respirar – ele mordeu o lábio com força na tentativa de não gozar ainda.
Os movimentos do jovem logo começaram a se tornar mais lentos, perdendo toda sua força inicial, o fim estava próximo.
Quando as últimas bolhas de ar subiram, enquanto o corpo do pobre coitado permanecia imóvel com sua cabeça afundada no galão, Sandro não precisou mais se segurar, sua calça ganhou uma mancha forte. Ele soltou o corpo e cambaleou para trás, perdendo o equilíbrio, acabando por cair sentando no chão, aquilo foi perfeito.
Porém não havia tempo para se perder apreciando o momento, precisava limpar tudo por ali antes que a manhã chegasse e os guardas acordassem, para sua sorte os funcionários da noite ali não eram muito bons e, é claro, podiam ser facilmente comprados caso acordassem, já acontecera uma vez.
Bem, aquela bagunça não iria se limpar sozinha.

------- † -------

Andando pela rua Charles escuta a notícia, na televisão de bar, de um jovem encontrado no litoral da Praia Azul. Não fazia sentido parar por aquilo, mas o que fazia?
“O jovem foi encontrado a dois quilômetros do cais, onde acreditasse que ele se atirou.” Disse o âncora. “Os familiares dizem que Jeferson Menezes era um rapaz alegre que amava ajudar o próximo, ninguém poderia imaginar que faria algo assim.”
Tão rápido quanto surgiu o interesse de Charles sumiu, ele deixou o bar, partindo para a rua principal, quinhentos metros para frente tinha um trabalho à cumprir.


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Autor: Lexaror

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